Produção audiovisual brasileira é tema da 24ª Conferência de Colônia, na Alemanha

Rede Globo, Conspiração Filmes e Irmãos de Criação apresentaram cases de mídia e falaram de coproduções internacionais, Lei da TV Paga e crescimento do mercado


Em mais uma parceria internacional, a Mundo Mídias Comunicação foi a empresa responsável pela delegação de produtores brasileiros que participou do International Day, na 24ª Conferência de Colônia, na Alemanha, no dia 9 de outubro. No encontro, produtores da Turquia, Brasil e China apresentaram índices e o perfil do mercado de cada país para estudar possíveis parcerias e coproduções no meio audiovisual. As atuais condições econômicas do país, com aumento do poder aquisitivo da classe média combinada à realização de grandes eventos (Copa e Olimpíadas), fazem com que o Brasil continue a atrair os olhares dos produtores internacionais. Participantes do evento são unânimes em afirmar que o mercado audiovisual brasileiro está em ascensão.

Interessadas em investir no Brasil, conquistar o público brasileiro – formado por mais de 200 milhões de habitantes, sendo que 51% estão conectados à Internet – é um desafio para a maioria das produtoras de fora. Os estrangeiros sentem dificuldade para entrar no mercado, reconhecer o perfil do público e se adaptar às leis do audiovisual do país.

Uma das mudanças de maior impacto no mercado foi a aprovação da Lei da TV Paga (lei 12.485/11), em 2011, que exige a veiculação mínima de 3h30 semanais (1.070 horas anuais) de conteúdos nacionais e independentes inéditos veiculados no horário nobre dos canais pagos.

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Leonardo Barros, da Conspiração Filmes

Segundo o diretor da Conspiração Filmes, Leonardo Barros, a Lei da TV Paga representa uma grande oportunidade de crescimento para produtoras brasileiras.

“A Lei 12,485 /11 representou um ‘mar de mudança’ para a produção independente no Brasil, tornando obrigatório que todos os canais de televisão por assinatura exibam uma certa quantidade de conteúdos brasileiros inéditos por semana. Isso deu um impulso enorme à produção, gerando milhares de novos empregos, e também foi bom para os consumidores, que agora têm mais variedade e diversidade de programação em sua própria língua”. E acrescenta: “Os produtores brasileiros podem falar de duas diferentes épocas de produção independente no Brasil: antes e depois da lei”.

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Flávio Rocha, da Rede Globo

O diretor de conteúdo artístico da Rede Globo, Flávio Rocha, lembra que mesmo com a oferta de conteúdo internacional, o telespectador brasileiro tem ainda a tendência de se envolver mais com o nacional.

“A expansão da TV Paga no Brasil abriu mais opções para conteúdo estrangeiro. No entanto, como é o caso de muitas regiões e nações ao redor do mundo, as pessoas tendem a preferir assistir a programas que refletem sua própria cultura e gostos. Isso oferece oportunidades para coproduções e também para a localização de conteúdo internacional – através de adaptações e redirecionamentos”, analisa.

A Rede Globo é reconhecida no mercado nacional e mundial pela produção de telenovelas vendidas para diversos países, como Uruguai, Estados Unidos, França, Holanda e Portugal. De olho na expansão da produção de séries nacionais, a emissora tem investido neste formato com temas de comédia, drama e ação.

“Diversidade e relevância são os principais fatores que norteiam essa estratégia. No Brasil, as novelas continuam a ser a principal força no horário nobre e vai continuar por um longo tempo. Mas também é importante oferecermos uma variedade de tipos de programas para o nosso público”, explica Flávio Rocha.

Um exemplo é o seriado “Dupla identidade”, que trouxe para a TV aberta o suspense psicológico das já conhecidas e exploradas séries em canais de TV paga, como “CSI: Crime Scene Investigation” ou “True detective”.

Coproduções –  Do escritório da Conspiração em Hamburgo, Alemanha, Leonardo Barros é responsável, dentre outros projetos, pela negociação de parcerias com produtoras internacionais. A Conspiração se prepara para lançar o longa “Bach no Brasil”, uma coprodução com o diretor alemão Ansgar Ahlers. Filmado em Ouro Preto, o filme tem estreia prevista para o segundo semestre de 2015.

“As coproduções internacionais são peças-chaves na estratégia de crescimento da Conspiração Filmes: elas atraem recursos financeiros e artísticos de outros países e ampliam o alcance dos nossos produtos. Entre 2010-2013, nós fizemos o filme ‘Lope’, uma coprodução de US$ 12 milhões com a Espanha; e a minissérie para TV ‘Rouge Brésil’, uma coprodução de US$ 10 milhões com a França. Em 2014, nós filmamos ‘Bach no Brasil’, uma coprodução cinematográfica US$ 4 milhões com a Alemanha (lançamento em 2015). Estamos negociando agora acordos de novos projetos em coprodução com a França e Canadá (um filme de animação 2D), com a Espanha (uma nova cinebiografia), com a Alemanha (um drama e um reality show de TV ); e com o Canadá (um filme de terror)”, cita.

Entre os blockbusters lançados pela Conspiração, Leonardo destacou em sua palestra os filmes “Dois Filhos de Francisco”, com 5,2 milhões de ingressos vendidos no Brasil, ultrapassando Star Wars 3, “Batman Begins” e “Os Incríveis”, e “A Mulher Invisível”, que teve 2,5 milhões de ingressos vendidos, com remakes nos Estados Unidos, Turquia e Itália.

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Marcus Fernandes, da Irmãos de Criação

Oportunidades – O crescimento do mercado audiovisual brasileiro é também compartilhado pelo showrunner da produtora Irmãos de Criação, Marcus Fernandes, que falou sobre mídia no Brasil e potenciais parcerias com produtoras alemães. “Isso se deve em grande parte pela lei, mas também por conta de investimentos privados e mecanismos de investimento, principalmente o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA)”, observa.

A produtora já desenvolveu diversos projetos de coproduções internacionais. Entre as realizações da Irmãos de Criação, Marcus Fernandes destaca a concepção da animação “Clara in Foodland,” produzida pela O2, para a Unilever e exibição na Discovery Kids. “A animação ‘viajou’ muito bem e teve grande sucesso de público em diferentes países e línguas”, conta.

Para produtoras internacionais que desejam investir no mercado brasileiro, Marcus indica que é fundamental consultar o site da Ancine, onde é disponibilizada uma lista de informaçōes sobre coproduçōes internacionais, como os regulamentos de acordos com diversos países, mas lembra que algumas responsabilidades devem ser negociadas diretamente entre os parceiros. “Normalmente, as atividades do processo de realização de um projeto, escolhas das divisōes de tarefas e localidades onde elas acontecerão devem ser combinadas entre os coprodutores, assim como os percentuais e as datas dos aportes”, lembra.

Premiação – A programação completa da Conferência de Colônia, realizada entre os dias 5 e 10 de outubro, teve como destaque o festival de filmes de diferentes nacionalidades e, no fechamento, o Award Cerimony, que premiou diversas personalidades. O diretor alemão Tom Tykwer, de “Corra, Lola, Corra”, venceu a categoria “The Hollywood Reporter Award”, voltada para filmes e programas de TV na indústria internacional. O diretor assina a série “Babylon Berlin”, que traz a promessa de renovar a ficção na TV alemã, e para “Sense8”, produzida para o Netflix.